quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A Gramática da Cidade


No último final de semana aconteceu um evento na minha igreja, em Niterói, muito bom: Palavra Afiada.
Contamos com a participação do Pastor Ziel Machado que, além de grande sujeito, nos enriqueceu muito com suas palestras.

Algo marcante para mim, foi o uso da expressão "gramática da cidade" por ele utilizado. Segundo Ziel, a igreja conhece, se identifica e vive (ou deveria) a "gramática do Reino de Deus", porém, discernir a gramática do entorno é fundamental para que a mensagem do Reino seja transmitida dentro desse cenário urbano.

Zygmunt Bauman, possivelmente um dos maiores pensadores sociais de nossos dias, nos traz grandes reflexões sobre o contexto das cidades, em seu livro Confiança e Medo na Cidade.
Para ele, é necessário entender em que contexto a cidade contemporânea está inserida. Uma cidade democrática, onde as relações interpessoais sejam também consideradas no planejamento e na gestão urbana, é a ênfase do autor. Para Bauman, as contradições das cidades provocam a sensação de medo e por conta disso, as pessoas buscam e pegam caro por "falsas sensações de segurança". 
Mas, Bauman, deseja promover o debate sobre espaço urbano enquanto política de gestão participativa e democrática, e quanto a nós?

Não precisamos ser cientistas sociais para diagnosticarmos o contexto do entorno da igreja. Precisamos apenas entender de que modo a mensagem do Evangelho - que lança fora o medo e que promove confiança inabalável - pode ser apresentada nesta geração, neste contexto social.

Conhecer a cidade, interagir com ela, reconhecer seus traços culturais, seus modismos vazios ou novidades relevantes são caminhos inevitáveis para todo aquele que deseja ser um missionário de Jesus no cotidiano.

Cumpri-nos conhecer a Bíblia. É fato que necessitamos buscar a face de Deus na intimidade da oração reverente. Mas olhar "para fora" dos nossos muros religiosos e de nossa "umbigologia" também é fundamental. Isso, se desejarmos ser um povo relevante. Isso, se quisermos ser uma Igreja Missional.

Em Cristo,

Roberto de Assis.

10 comentários:

  1. E como conhecer a cidade, no sentido que você coloca?

    Aliás, muito bom texto.

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  2. Viver a cidade na cidade. Não demonizar a cultura, antes buscar expressar o Reino também através dela.
    Sem dúvida, segundo orientação de Paulo, não assumindo a forma do mundo. Mas não buscando apenas a primeira parte do versículo, e sim o texto todo que nos convida também a uma transformação a partir da mente renovada.

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  3. Mas, na prática, no dia a dia? Como seria isso?
    Vc cantaria musicas "nao cristas" no culto? Cantaria "amor de indio"? Sim, pois tudo o que ove eh sagrado... Nosso Deus eh o motor imovido... sim, pois "tudo viver ao seu lado, com o arco da promessa, no azul pintado pra durar"

    Ou quem sabe, nas celulas, apenas se juntar e bater papo, colocar uma musica....um happy hour em nossas casas.?

    Vamos la.. Como seria viver a cidade na cidade na pratica?

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  4. Caramba!!! Não posso ficar de fora desse papo.
    Um amigo escreveu algo mt bom: "saiam das capelas e catedrais, que a bíblia seja um ovo para o povo e o sal venha pra fora do saleiro e dê sabor ao mundo inteiro..." (Dilson Ornelas)
    Conhecer a "gramática da cidade" é viver na cidade sem estar fora dela, vou tentar explicar. O pensamento apresentado pelo Ziel, agora ventilado neste post, é que a igreja dentro da sua subcultura não está preocupada em se comunicar com os que estão fora, não quer ler outra gramática que não seja a sua. Perdendo o foco.
    E como seremos capazes de ler esta gramática? José Eduardo apontou o caminho. Precisamos ler o que está sendo escrito fora dos domínios da Igreja, precisamos ouvir as músicas, pensar suas letras, apreciar sua arte, interagir com toda manifestação da alma do homem do nosso tempo. Sei lá, eu acho que seja mais simples, pois posso fazer tudo isso sem negociar ou me achar melhor a partir da intervenção do Espírito Santo na minha vida.
    Jesus conhecia a gramática da cidade de sua época. Ele andou pela cidade, com pessoas da cidade, sem absorver os valores dessa gramática. Ai reside nosso desafio. Ler a gramática da cidade, sem absorvê-la.

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  5. Meu amigo, Reverendo Douglas Queiroz.
    Ler seu comentário aqui, que tanto enriquece nossa leitura - como enriquecedores são os comentários do Reverendo J. Eduardo - me deixa muito feliz!

    Creio que "viver a cidade na cidade" é o que todos nós (em alguma medida natural) fazemos todos os dias. O desafio é ver e FAZER a missão nesse cotidiano. Como bem disse o Dodô, é "ler a gramática sem absorve-la". Não devemos negociar a doutrina, a confissão de Fé, a proclamação de que o homem sem Cristo vai existir por toda a eternidade no inferno. Apenas precisamos "afiar" o discurso, de modo que ele seja bem apresentado, tocando "na ferida real", respondendo aos dilemas existenciais de HOJE.

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  6. Ninguem me respondeu se pode ou nao tocar amor de indio, nem se pode fazer encontros mais informais nos lares.

    Vamos la! Finge que somos uma igreja. Eu quero iniciar uma celula. Posso fazer um encontro informal, com amendoin, pastinha, musica no fundo e batendo um papo sobre o dia? Posso conversar sobre o dia de trabalho? E se o assunto do sermao do domingo nao puder ser aplicado diretamente, posso deixar pra la?

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  7. Esse aqui é o meu medo:

    The early modernists did not aim at destroying biblical Christianity. They simply tried to make Christianity palatable to an unbelieving world. It cannot be done. When Christianity becomes acceptable to unregenerate people--it has ceased to be Christianity! (Don Fortner)

    by google translator:

    Os primeiros modernistas não visavam destruir o cristianismo bíblico. Eles simplesmente tentaram tornar o cristianismo aceitável para um mundo incrédulo. Não pode ser feito. Quando o Cristianismo se torna aceitável para pessoas não regeneradas - ela deixou de ser cristianismo!

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  8. Zé, observa que o seu foco é o modo de operação da igreja-instituição, e o texto, fala sobre a nossa missão individual, postura individual, envolvimento pessoal com a cidade na cidade.
    Não acho que a igreja deva ser um lugar moldado e adequado (em suas atividades e liturgias) para os não crentes "curtirem" estar lá; muito menos penso que a exposição fiel às escrituras deva ser deixado de lado fazendo com que "o cristianismo deixe de ser cristianismo". Não precisa tocar amor de índio no culto; também não precisa fazer um encontro "forçado" de pequeno grupo com "aparência" missional.

    Toda a questão repousa na nossa postura individual. Como igreja que somos individualmente, que certamente demonstrará o que É a igreja instituida (reunião dessa "gente-igreja"). A congregação é a estação final onde, literalmente, "queimamos incenso" (expressão NADA missional, rsrs); onde os filhos de Deus se reunem para dar a Ele louvor e honra. Onde temos comunhão com aqueles que, como nós, foram radicalmente transformados pelo Sangue que o Cordeiro de Deus derramou.
    TUDO isso não tira o nosso desafio. Como vivemos Deus no mundo nos outros 6 dias? Conhecemos Deus e doutrina, mas ... conhecemos o que está a nossa volta?

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  9. Amigos,
    de fato o texto aponta para um compromisso individual, ou seja, uma missão particular que se torna coletiva no ajuntamento de muitos com a mesma missão. Agora, tocar música secular no culto ou fazer reuniões sem a formalidade de uma oração ou leitura do texto bíblico, eu acho que não tem nenhum problema, mesmo porque tudo isso pode servir para ilustrar a necessidade da contracultura contida na gramática bíblica.
    Podemos começar um fórum de sugestões com as músicas para o próximo encontro de domingo.
    O pessoal da Chácara Primavera em Campinas já trabalha assim. Eu não vi nenhuma heresia e nenhuma preocupação de tornar o cristianismo aceitável, mas sim de apresentar um cristianismo que seja entendido. Vocês não acham que em alguns momentos dos nossos encontros a gente não comunica, pior confunde as pessoas.

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  10. Concordo com você Dodô, de que muitas vezes a nossa liturgia confunde mais do que informa o incrédulo. Não vejo problemas em algumas reuniões (estratégicas principalmente) em que se possa usar música "secular" de bom gosto (bem como poesia, pintura, filmes, etc), também acho que jamais devemos abrir mão do fato de que o culto (como tão bem conhecemos e frequentamos) é aquele momento glorioso de encontro com o Criador; de adoração reverente; de quebrantamento, alegria, comunhão, etc...

    Mas, concordando com você, penso que podemos começar o exercício pela busca de uma liturgia inclusiva em nossos cultos.

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